Pra não dizer que aqui abandonei


O coração não estava descendo para as mãos e isso me afligia deveras. Parecia que o lápis, papel e borracha nunca me haviam sido apresentados. Parecia que aqui dentro o toc-toc de qualquer batida refletia sons ocos, porque nada havia. E esse suposto nada me causava alergia. Ojeriza.
Assustava-me não ter nada. Apavorava-me não transformar letras em textos, lágrimas em prosa, sorrisos em poesia, divagações em (maiores) divagações escritas. Contudo, o coração não descia para as mãos por haver muitos. Superlotação de muitos. Muitos seres com enorme peso dentro de um só músculo pequeno. Seres que após conhecê-los em estado de parasitismo em mim, lembro-me de seus nomes: menino Rogério Medo, senhora Preocupação da Silva, moço Estresse de Final de Ano Júnior, senhor Estresse de Final de Ano, moça Ansiedade Augusta e seu O que Será de Dois Mil e Doze dos Santos.
E agora, já beirando o meio do mês de janeiro que só é janeiro depois do carnaval, respondo a pergunta dezembrina da querida Erica Ferro:
- ... O meu coração não descia para as mãos porque estava com um nível altíssimo de colesterol, verdadeiro entupimento das artérias, trânsito total de comunicação gordurosa que impedia qualquer suspiro livre de palavras pelas vias sanguíneas.

Pergunta da Ferro: "O que aconteceu com o coração que não desce mais para as mãos?"
Entrelinhas: vou tentar reaparecer por aqui, vamos ver se dará certo.
P.S.: Um ótimo 2012 para quem quer que esteja lendo <3


Comentários

Unknown disse…
Olá. Vi seu link no twitter. Gostei imenso da forma que expressou o bloqueio de um autor "o coração não estava descendo para as mãos". Muitas vezes é difícil ter tanto para escrever, para expressar e não conseguir. Ter este branco, este bloqueio. Espero que esta fase passe logo, bom 2012.

http://escritoslisergicos.blogspot.com
Érica Ferro disse…
Às vezes o coração está tão conturbado, a mente tão entupida de mil e um pensamentos, que simplesmente as palavras não vêm aos dedos. E isso é angustiante.
O bom é que a calmaria e a ordem sempre voltam, ainda que não se demorem, e as palavras escorrem pelos dedos e formam textos tão bonitos quanto esse seu, Gabi, SUA LINDONA.

Um abraço da @ericona!
Unknown disse…
Que legal como você se expressou, adorei o texto! Fiquei realmente muito encantada *-*
http://www.dinhacavalcante.com/
Elania Costa disse…
Eu ri um pouco, admito, com os nomes dos "parasistimos" , rs.

Tenha um feliz 2012 querida. E obrigada, de verdade, pelos comentários. Um beijo.