Eu não deserto, decerto


Portas fechadas, janelas semicerradas. Logo, falta-se a luz do sol. Procuramos uma saída, algo de bom, dias melhores – ou motivos para sorrir. Todavia parece não haver, infelizmente. Estamos num deserto, em plena metrópole...
Deserto de soluções. Deserto de ideias. Deserto de motivações. Deserto de rios amorosos. Deserto de iniciativas positivas.
Estou num ermo, cuja miragem distancia-se das águas cristalinas e aproxima-se d’algum universo onírico pairando sobre a realidade mais cruel e acinzentada possível. A realidade que, comumente, invade-nos.
Para o meu choro não há valia, palavra tenra, apoio coletivo ou ilusória alegria. Destinada à lágrima, encontra-se um remetente em abandono. Enviada à miséria, vi caras fechadas de políticos trancafiados em seus casulos luxuosos. E aos viciados em drogas, nos venenos imbatíveis, entrevi os mais nobres de todas as classes sociais - criando devassidão a outrem, superior ao próprio existir.
Deserto humano. Aridez da alma. Rochas e não corações. Cifras e não sentimentos. Fúteis emoções e não reais corações.
Sufocada pela angústia do resguardar da própria segurança, vivo pensando em quais décadas festejaremos a utópica confiança humana. Se num deserto estamos e em nossas mentes se faz morada, qual máquina o super-homem inventará para regar as securas da alma? Não quero que a minha flor continue morrendo de amor humano a cada instante...
Eles desertam ainda mais o deserto que são as nossas vidas neste século. Só que eu tento não desertar, decerto. Rego com todo o meu amor as flores que passam por mim, despejo sorrisos e bons votos aos que cometem impunidades. Se adianta, não sei. Mas continuarei... o batucar de esperança em mim ainda diz que é o certo. Espero, pois.

Entrelinhas: este texto fora feito numa época em que eu estava um pouco revoltada, devido a um assalto numa casa bem humilde, por parte de pessoas viciadas em drogas – que se tornaram assim, graças à “elite” que há muito deserta-nos mais e mais. Se o escrito não fizer sentido algum, desculpe-me.

Comentários

Tiago Moralles disse…
Relaxa Gabi, é sempre bom botar pra fora.
Thais disse…
Esse texto tem uma escrita bem literária, gostei! (:
É, a elite tem grande influência em certas desgraças no mundo. E isso não é de hoje, há séculos vem acontecendo. E o motivo para o seu texto é bem revoltante mesmo, quem paga sempre são os mais vulneráveis e humildes. :~
Beijos :*
GiovannaMoser disse…
Esse deserto anda me perseguindo nos ultimos tempos, não adianta tantas pessoas, ou uma metrópole. A solução seriam os sentimentos, bem distribuidos.
João Lenjob disse…
Muito bom tudo por aqui. Adorei e aguardo a visita em meu blog, http://lenjob.blogspot.com

João Lenjob

Turbulência
João Lenjob

Esta turbulência há de passar
Mesmo que caia, caio também
Para não deixar que fique só
Só não rezo por você para que possa aprender
O que aprendi sem ter alguém
Sem pedir por pais ou Deus.

Prometo estar sempre com você
Olhando o azul do céu
E enchendo de algodão
Para ver se chove um pouco de amor
E paz no coração
Tocando a terra molhada com a mão
E fechando os olhos para sentir a suavidade das pétalas
E não a rispidez do dinheiro
Fazendo enxergar que tudo que planta cresce
E tudo que cresce cria raiz
Que não se quebra com atitudes
Que não gera ou permite o esquecimento
Que fere o peito e afeta a alma
Que não deixa a turbulência passar.
Thamy disse…
Concordo. Estamos num deserto, numa aridez humanda. Decerto!
Fernanda H.A. disse…
Encantadora a maneira que você misturou a realidade e a poesia!