À você, as minhas lembranças

São Paulo, 22 de Junho de 2009.

Prezada vida,

Eu queria agradecer-lhe pelas tardes ensolaradas, os sorrisos abundantes, os abraços humanos, o amor ao meu redor, as lições que me ensinaste, os erros que me fizeram crescer, as inúmeras histórias que me levaram à outros horizontes, os amigos, a família e enfim por tudo. Todavia, eu não me sinto completa. Há um vazio enorme dentro de mim, corroendo-me. Esse buraco que me consome mora muito longe, talvez a milhas de onde eu realmente esteja. Este, por sua vez gigante aumenta a cada segundo em que vejo fome nos olhos de crianças, tristeza nos corações de seres não amados, armas sendo disparadas e lágrimas fluindo como rios em faces alheias. Talvez o meu próprio abismo possa estar na África, na Ásia, nas Américas, na Europa, na Oceania, nos confins da Antártica ou quiçá junto à mim neste momento, fazendo-me morada. Querida e estimada vida, porque deixaste inúmeras diferenças o homem fazer? Desculpe senhoria, mas devo-lhe admitir que vivo numa mentira, a mentira que é viver - num mundo onde se almeja pela paz, mas que por ela nada se faz.
As esperanças não deixam de morrer, será possível alguém esquecer que sentimentos ainda possam a raça humana ter? Tantas tardes deixei que o egoísmo me dominasse, pedindo somente que Deus estivesse comigo. Arrependo-me seriamente. Todavia, hoje lhe peço para que seja amiga do destino, assim como o Sol e a Lua que nunca se encontram, faça um pequeno esforço para esta mera mortal que com tanto apelo lhe pede e tente unir o presente com o futuro.
Viste como os jovens mortais estão entediantes? Eles passam horas sem fim diante do computador e já não conseguem distinguir nenhuma cor, digo-lhe aquelas as quais estamos acostumadas: a aquarela do crepúsculo, a miscelânea do amanhecer e a névoa do anoitecer. Estou desanimada, nem sei o que fazer. Se me deste opções de quais caminhos seguir, ajude-me a algum ir. Essa agonia indelével em meu ser, faz-me soar assim, dum modo onde no mundo todos estão a perecer. Conto com a sua compreensão, pois mais do qualquer outra criatura existente, sabes do que lhe acabo de descrever.

Com lágrimas jogadas ao vento e o coração pulsando pelo verde incansável,
Gabriela.


Créditos: à Fernanda, pela ajuda com a escolha da foto.

Comentários

Otávio Machado disse…
Deeus.
Primeiramente, obrigadão pelo selo. Vou colocar ele no domingo, eu presumo.
Em segundo lugar, fazia tempo que eu não passava por aqui. Que bom! Assim dá pra ler mais das coisas que você escreve e tudo na corrida. :D
Seus textos me fazem pensar, e isso é ótimo.
Quanto ao texto, eu acredito que o maior problema causado pela aquietação providenciada por toda essa tecnologia, foi justamente a falta de reação das pessoas. Não existe mais movimento, ou cor, como você disse. Nem o movimento leve, ou o brusco. Nem preto, ou branco. Quero reação, revolução. Quero mudança. - Mas também entrar no MSN.