Recomeço num falso sonho

Aos passos de uma bailarina foi do modo como eu fui seguindo. A cada tombo, as sapatilhas sob os meus pés doíam constantemente, mas de uma forma sublime eu erguia a cabeça e continuava acompanhando a coreografia, vivendo a magia que é seguir o inexplicável ritmo. Ora devagar, ora rápido, era normal se perder, dar voltas erradas e às vezes decepções sofrer. Entretanto, como uma bela dançarina, à dança novamente eu deveria voltar. O público, os meus passos deveria amar. Jamais a excelente bailarina poderia errar, seria um equívoco inexistente como a quimera em que não há sonhos e a primavera em que não há flores. O minha íntima e particular plateia somente se decepcionou, todo o dinheiro apostado perdeu-se, todas as risadas ensaiadas não puderam ser interpretadas pelos figurantes, os prêmios de vitória não saíram das inúmeras prateleiras, os sorrisos de recompensa nem sequer iniciaram a ser gesticulados, e a salva de palmas perdeu-se no meio da estrada onde já há a inexorável ausência de súbitos rastros meus. Eu queria fazer tudo sem poder realizar nada. Após inúmeras idas e vindas, encontros e desencontros, sorrisos e mares de lágrimas, tudo novamente decidi encarar. O que seria mais temeroso? A decepção ou o medo já cravado em meu coração?
Este último termo eu aprendi da pior forma que só causa impedimentos evasivos e acarreta coisas ruins. Se tentando fazer um gran plié perfeito pude no chão desmoronar-me, outrora já estava forte, qual seria o impedimento? Na ponta dos pés, senti o vento inspirar-se em minha face, o toque leve do liso chão sob a minha pele e os giros em torno do meu corpo faziam dos pensamentos um baú aberto para os sentimentos bons, a segurança em mim extravasava súbitas palmas vindas de fora. Fechava os olhos a fim de acreditar naquele sonho que estava a acontecer, contudo não conseguia ver. Não se passara de um sonho, era a mais bela de todas as minhas realidades, a mais incrível visão e a mais emocionante conspiração do meu próprio Universo escrito em singelos versos por Aquele que numa outra dimensão está. Os via em lágrimas sorrirem, o mais puro brilho olhar. De repente estava novamente a rodopiar, enxergava de relance uma multidão se erguer, sem saber como, consegui dar um súbito e entrondoso salto. Os meus medos eu estava enfrentando e com eles, barreiras superando.

Comentários

Carol Mendes disse…
Que mágico!
Visualizei, perfeitamente, as cenas.
Enfrentar os medos!!!
Difícil, não?
Contudo, são os sonhos que nos impulsionam, nos encorajam a lutar e buscar a realidade almejada!

Bjinhossss...

Ameiiiii...

;*
Unknown disse…
Li até rotina....

E vc escreve muito bem. Isso me lembra algum filme. Por que dançar lembra superação e aperfeiçoamento.

Onde cada um precisa superar os obstáculos e isso faz aperfeiçoar,e de certa forma em diversas coisas da vida.