Boneca de pano


Meiga, de choro fácil, ela vive sempre a sorrir. Sorriso fixo e às vezes trêmulo, que não sai dos lábios. Como que se esquecera que o tempo passa, a infância permanece nela. E ela, mulher, ainda é menina. Feminina é eufemismo, se pudesse teria tudo em forma de flores, desenhos infantis e borboletas. Não vive longe da busca pela felicidade, mas foge de brigas como o Cascão corre da chuva. A sua cidade não possui nome e a rua em que mora não possui CEP, porque a sua morada é desprendida. Ela acredita em um amor irreal, e por isso sabe ser leal como ninguém. Engana-se quem pensa que ela elogia a cada suspiro, a vida lhe foi dura e ela fala mesmo com atitudes e abnegação. Dizer não aos outros e fazer escolhas é difícil, prefere enxergar tudo como bom.
Não é fácil entendê-la, no entanto se pode vê-la como uma boneca de pano: centenas de linhas e detalhes formando algo tão singelo e único.

Imagem: daqui - Adriana Vieira.

Comentários

Bárbara Paloma disse…
Que lindo texto! É auto retrato?
Me vi nele. Tua frase: "Ela acredita em um amor irreal", me lembrou um poema meu chamado Esperança, que é moça sonhadora na janela. Que ama o irreal, e adormece esperando.
O último parágrafo! Como é lindo! Tantos fios, carrega tanto dentro de si.
Poderia comentar cada trechinho, mas não quero me prolongar.

Abraço carinhoso e uma linda semana!